Igreja Presbiteriana do Renascença
Dia do Senhor, 7 de fevereiro 2021

Deus quer que você conheça palavras em Hebraico. Apesar da excelência alcançada por algumas traduções bíblicas para o português, muitas palavras do Antigo Testamento se tornaram tão comuns e marcantes na religião do antigo Israel que permaneceram não-traduzidas na maioria das traduções bíblicas pelo mundo. A palavra “Amém” talvez seja o maior exemplo desse fenômeno. As letras podem causar estranheza, mas a pronúncia dessa palavra hebraica é bem conhecida até pelas crianças de nossa igreja. A pronúncia de אָמֵן é “amên”.

“Amém” no Antigo Testamento

No Antigo Testamento a palavra aparece pela primeira vez em Nm 5.22 e 12 vezes em Dt 27.15-26. “Amém” também é palavra que fecha as seções I, II, III, e IV do Livro dos Salmos (Salmos 41.13; 72.19; 89.52; 106.48). Em todas essas passagens, “Amém” é sempre uma palavra final, uma resposta ou palavra de confirmação. Em Jeremias 28.6, apesar de “Amém” aparecer como a primeira palavra de um discurso de Jeremias, a expressão novamente é usada com um sentido de confirmação, ou aspiração de que o SENHOR faça acontecer tudo em conformidade com o que foi anteriormente dito. Nessa passagem em Jeremias, “Amém” é seguido de uma espécie de explicação da expressão, “Assim faça o SENHOR”. O rabino Raymond Apple sugere que tanto pelo peso jurídico (como em Nm 5.22) como em virtude de sua primitiva relação com a ideia de “verdade” e “cumprimento”, não tardou para a palavra “Amém” se tornar comum na liturgia do antigo Israel, usada geralmente ao final da proclamação de uma bênção, significando “Assim seja!”. Esse uso migrou para o Novo Testamento (observe, por exemplo, como terminam as mais conhecidas doxologias do NT), e consequentemente se tornou comum na vida da igreja cristã.

“Amém” no Novo Testamento

Porém, mesmo tendo se tornado tão frequente entre os cristãos, sua singular relação com a pessoa de Cristo raramente é lembrada. É verdade que em grande parte das quase 130 aparições de “Amém” no Novo Testamento, o termo reflete o uso comum no Antigo Testamento, podendo ser entendido e traduzido como “Assim seja!” Todavia, Jesus fez uso bem peculiar do termo ao introduzir alguns de seus grandes discursos com a expressão Ἀμὴν λέγω ὑμῖν (Lê-se, Amên légō ūmín); literalmente, “Amém digo para vós”, geralmente traduzido, “Em verdade vos digo”. Não se trata apenas de mudar o tradicional uso responsivo do termo. Essa fórmula usada por Jesus tem um certo paralelo com a expressão “Assim diz o SENHOR” do Antigo Testamento. Mas note que enquanto os profetas apelavam para a autoridade do SENHOR, Jesus é o Deus-conosco, o único com autoridade para comunicar a vontade de Deus afirmando, “Eu digo”. Ele não apenas fala a verdade, ele é a Verdade que fala (Veja Jo 14.6).

Paulo, Pedro, o autor de Hebreus, e Judas usaram a palavra “Amém” quase sempre no sentido tradicional; no final de uma palavra de bênção, como fechamento de uma doxologia, ou simplesmente antecipando o amém final esperado por parte dos leitores de suas cartas. Mas Paulo acrescenta algo interessante em 2Cor 1.20 ao estabelecer um paralelo entre “amém”, a palavra “sim”, e a pessoa de Cristo. Comentando esse texto, John Piper afirma que “Em Jesus Cristo, Deus nos diz ‘Sim’ por meio de suas promessas; e em Cristo dizemos nosso ‘Sim’ a Deus através da oração.”

Aquilo que não está tão evidente nas palavras de Paulo em 2Cor 1.20, é dito com todas as letras pelo próprio Cristo em Apocalipse 3.14; Jesus é o Amém. Mas em que sentido devemos entender que Jesus é o Amém? J. Wright ajuda a responder essa questão ao dizer que, “No diálogo entre Deus e o homem sobre a história da salvação, Deus tem a última palavra, a eficaz e definitiva palavra, e essa palavra é Cristo. Ele é a promessa de Deus cumprida, a aliança de Deus estabelecida, o julgamento misericordioso e irrevogável de Deus sobre a história humana. Ele é a realização concreta dos propósitos de Deus no mundo.”

No Evangelho de João aprendemos que Jesus é o Verbo, a Palavra Primeira, que deu origem a tudo o que existe, e sem a qual nada do que foi feito se fez (João 1). O Novo Testamento também ensina que Jesus é a Palavra Final, o ponto mais alto e sublime da revelação de Deus para nós (Veja Hebreus 1.1-2). Nenhuma palavra, nenhuma adicional revelação precisa ser acrescentada uma vez que no – e por meio do – Filho Deus consuma seu propósito salvador. Não sem motivo, no último capítulo do último livro da Bíblia, o próprio Jesus diz, “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.”

Conclusão

Se você entende e usa “Amém” como uma palavra de confirmação, geralmente ao final de uma oração ou bênção litúrgica, sua compreensão está correta. Mas se você não relaciona essa palavra com a pessoa de Jesus, então sua compreensão ainda está incompleta. Em Cristo nosso coração deve encontrar inabalável paz para lidar com a tensão entre as promessas que se cumpriram e as promessas que ainda não foram consumadas. Por isso, no coração – e nos lábios – dos cristãos, “Amém” não é uma mera aspiração otimista. Para o crente, “Amém” aponta para Cristo como a fonte da vida e verdade. Aponta para Cristo como a concreta e perfeita manifestação do cumprimento das promessas; a morte foi vencida, o inimigo foi derrotado, os grilhões que nos escravizavam ao pecado foram quebrados. Em suma, o crente fala “Assim seja, SENHOR!” motivado pela certeza de que, em Cristo e por meio de Cristo, as grandes bênçãos de Deus são uma realidade.

 

“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.” אָמֵן

 

Rev. Adenauer Lima