AD Belém Basel
Justificados
  • Introdução

    Gostaria de fazer a vocês esta pergunta: qual caminho vocês escolherão?
    Para estar de bem na fita com Deus, vocês vão escolher o caminho da lei, do mérito, do legalismo, acreditando que conseguirão por conta própria, com esforço, ou vão escolher o caminho da graça?
    Para explicar melhor essa problemática, quero lembrar que Paulo escreveu uma carta aos Gálatas onde desenvolve o pensamento que encoraja as pessoas a abandonarem o mérito, o legalismo, a tentativa de alcançar por si mesmas, por boas obras, e a caminharem no caminho da graça.
    E o que ele diz é muito forte, sendo bem incisivo já no primeiro capítulo, ele diz que, se alguém pregar outro evangelho que não seja o que ele prega, o Evangelho da graça, que essa pessoa seja amaldiçoada. Não há outro evangelho! A ideia é que você não pode sair de um jugo que estava para ir à um outro. Assim, há apenas um evangelho: o Evangelho da graça, o de viver na graça, o de caminhar na graça.
    No segundo capítulo Paulo vai narrar o motivo da segunda reunião dele com a Igreja de Jerusalém.

    1.1 De Antioquia para Jerusalém

    Compreenda bem: Depois te ter tido um encontro com Deus, Paulo passou praticamente 3 anos no deserto; fez uma primeira visita aos discípulos de Jesus; foi para Tarso, e depois foi levado por Barnabé para servir na Igreja em Antioquia.
    14 anos depois que Paulo fez sua primeira visita à Jerusalém, ele vai uma segunda vez, agora acompanhado de Barnabé e de Tito (um gentil convertido), como representante da Igreja de Antioquia onde ele se tinha transferido e assumido a tacha missionária (ver At 11.25-26).
    Este encontro foi necessário, pois alguns membros da Igreja de Jerusalém protestaram contra a prática religiosa dos Antioquianos que era de não exigir a circuncisão e a observação da Lei de Moisés aos que não eram judeus mas que aderiram a fé em Jesus, e fizeram apelo à autoridade de Tiago, irmão de Jesus.
    O problema que está por trás está ligado à duas concepções da ligação entre Jesus, a Lei e a salvação.
    Essa reunião aconteceu provavelmente entre os anos 48/49; vemos a narração desta reunião em Gl 2.1-10 e em At 15.1-29.
    Gálatas 2.1–2 (BEARC)
    1 Depois, passados catorze anos,subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito. 2 E subi por uma revelação […]
    Paulo é o protagonista direto, ele escreveu numa época em que os outros protagonistas ainda estavam vivos, e assim os fatos relatados podem ser verificados: portanto, é a fonte de primeira mão que é priorizada.

    1.1 Os resultados das reuniões

    Será que todos os crentes pensam iguais? Desde o início do cristianismo vemos que não. Assim é necessário chegar num acordo/harmonia.
    […] e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios […]
    Infelizmente a primeira reunião com toda a Igreja de Jerusalém não chegou a nenhum acordo.
    […] e particularmente aos que estavam em estima, para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão.
    Então eles recorreram somente aos responsáveis : De um lado, Paulo e Barnabé; do outro, “as colunas”, Tiago (ver o testemunho da trad. sobre a aparição de Jesus a Tiago em 1Co 15.7, mas que desapareceu nos evs.), Cefas e João.
    Nesse estado um acordo foi encontrado na base de uma interpretação teológica dos resultados da missão, concluindo que
    Deus confiou a Cefas/Pedro a missão aos judaicos
    e Paulo foi destinados aos gentios
    Gálatas 2.7–8 (BEARC)
    7 antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão 8 (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios),
    Assim “as colunas” da Igreja reconheceram a missão de Barnabé e de Paulo,

    1.2. A única condição para que sejam reconhecidos como crentes : “se lembrem dos pobres”.

    Aceitaram e colocaram como única condição que eles “se lembrem dos pobres” - expressão que parece ser um termo técnico para designar a Igreja de Jerusalém.
    Segundo At 15.22-29 as autoridades da Igreja de Jerusalém enviaram à Antioquia um decreto pedindo que os crentes em Jesus que não eram judaicos de cumprirem os “preceitos noéticos”, isso afim de permitir a comunhão deles com os judaicos que continuam à observar a Lei.
    Evidentemente que o texto de At 15 contradiz a insistência paulina que sublinha a ausência de condição.
    Provavelmente o texto de At 15.22-29 partiu de uma resolução de Jerusalém que estava tentando apaziguar os problemas surgidos logo após o final da reunião.

    1.3. Os problemas não acabaram, mas permitiram que o cristianismo perdurasse.

    Infelizmente a reunião de Jerusalém não chegou a resolver a situação, pois a hostilidade dos judaicos crentes em Jesus e fiéis ao cumprimento da Lei persistiram contra Paulo.
    Mesmo assim, essa reunião incorpora uma importância imensa: si as autoridades da Igreja de Jerusalém não tivessem aceitado a posição da Igreja de Antioquia, a missão cristã estaria cortada no meio:
    de um lado agente teria um cristianismo ligado somente às marcas da identidade judaica, e consequentemente incapaz de uma grande difusão;
    do outro, um cristianismo cada vez mais longe das suas raízes judaicas - e já aprendemos na história humana do século XX o que acontece quando separamos completamente o cristianismo do judaísmo.
    Sem acordo, o futuro do cristianismo estaria comprometido, ou no mínimo teria uma fisionomia completamente diferente.

    2. Não viva uma vida cristão incoerente

    Ele usa um testemunho, uma ilustração impactante, falando de Pedro.
    Naquela época em Antioquia fazia-se uma distinção clara entre os cristãos de origem judaica e os que não eram judeus.
    Ele diz que, certa vez, Pedro, que de todas as evidências estava passando um momento em Antioquia nessa época e celebrava a ceia do culto (nossa Santa-Ceia) com o grupo misto de crentes judaicos e não judaicos, desfrutando do momento. Talvez até estivesse comendo alimentos que eram proibidos pelas regras judaicas. Eu imagino Pedro como uma pessoa bem animada, aproveitando o momento.
    Depois que Barnabé e Paulo retornaram à Antioquia, algumas pessoas foram enviadas por Tiago desde Jerusalém.
    Pedro virou a casaca e começa a celebrar com os judaicos que observavam a Lei, isso afim de ficar em comunhão com o grupo de Tiago que pensava que o fato de estarem na mesma mesa com os não judaicos traria mesmo uma impuridade, mesmo entre os que eram crentes em Jesus.
    Pedro, ao vê-los, age como se não conhecesse aqueles com quem estava.
    A Bíblia nos diz, segundo Paulo, que Pedro, em sua hipocrisia, até arrastou Barnabé para agir da mesma forma, voltando para o caminho do mérito, da lei, do legalismo.
    Paulo protesta violentamente, acusando Pedro de hipocrisia; mas parece que ficou isolado nesse ato, pois Barnabé se põe ao lado de Pedro. Paulo confronta Pedro publicamente, dizendo que ele estava errado, que estava levando as pessoas a um jugo de religiosidade e até influenciando Barnabé em sua hipocrisia.
    Gálatas 2.11–14 (BEARC)
    11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. 12 Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. 13 E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. 14 Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?
    Na verdade, como Paulo explica em Gl 2.15-21 evocando o episódio, Paulo estava partindo da mesma posição que os interlocutores dele (os Gálatas), e tira assim a moral dessa história para eles, pois estavam vivendo num antagonismo que era incoerente para Paulo.
    Gálatas 2.15–21 (BEARC)
    15 Nós somos judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios. 16 Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei,

    2.1. É incoerente pensar que ficarás de bem na fita (se justificar) diante de Deus através das coisas que consegues fazer.

    Si o judaico fosse justificado pelo fato de cumprir a Lei, não seria necessário de crer em Jesus;
    Assim é evidente que os gentios, os quais aos olhos dos judaicos eram “pecadores” já por definição, não precisam viver pela Lei.
    O pensamento de Paulo é:
    “Si nós, judaicos, cremos em Jesus (ponto comum entre todos), isso quer dizer que reconhecemos que somos justificados pela fé nEle, e não pelo fato de cumprir as “obras da Lei”;
    somos convencidos portanto que ninguém jamais será justificado por praticar a Lei.
    porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
    Mas si pensamos que, mesmo sendo crentes em Cristo, podemos nos encontrar na condição de pecadores caso não observemos a Lei, então Cristo é morto em vão.
    17 Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma. 18 Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.

    2.2. Cristo é morto em vão se pensamos que a fé nEle não é suficiente para nos tirar do estado de pecado.

    Si, em vez de sermos justificado pelos nosso atos, somos convencidos que é a morte de Jesus nos justifica, isso implica que o fato de não observar a Lei não pode nos tornar pecadores;
    Aderindo à morte salvadora do Cristo, somos mortos à Lei,
    “Morto para a lei” = fui tirado do poder da Lei
    Aceitar a morte de Cristo como suficiente para nos justificar diante do Pai implica em compreender que a Lei não tem mais poder sobre nós.

    2.3. O poder da Lei ? Taxar de pecado todo comportamento que a transgride.

    Ela existe para deixar bem claro nossas transgressões.
    A Lei não tem poder sobre os mortos
    Assim nós, ainda estando “na carne”, quer dizer na condição humana que ainda é exposta às garras do pecado, na fé vivemos a vida do Cristo ressuscitado.
    Isso é porque Cristo é muito além do que o pecado, e assim muito além da morte.
    19 Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. 20 estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim. 21 Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.

    3. Qual caminho você vai tomar?

    No restante da carta, Paulo explica a diferença entre os dois caminhos: o caminho da natureza, da lei, do mérito, e o caminho da graça.
    Ele usa uma alegoria, mencionando os filhos de Abraão. Ismael representa o filho da lei, da natureza, da carne. Ele nasceu porque Abraão teve um filho com sua serva Agar, algo normal no contexto humano. Já Isaque representa o filho da graça, pois nasceu de Sara, uma mulher idosa e estéril. Isaque é o fruto do milagre, 100% da graça de Deus.
    Paulo usa essa história para mostrar que dentro de nós existe um "Ismael" que nos atrai para o caminho da natureza, do mérito, e um "Isaque" que nos conduz ao caminho da graça. Qual caminho você escolherá?
    Paulo conclui sua carta dizendo que o que importa não são as regras, como a circuncisão, mas ser uma nova criatura.
    Gálatas 6.13–16 (BEARC)
    13 Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo. 15 Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. 16 E, a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus.

    Conclusão

    Agora, deixe-me dar uma metáfora. Imagine que o mérito é como um fardo que você carrega para impressionar os outros. No início, você dá sua vida ao Senhor, está na graça. Mas logo percebe que, ao fazer coisas, impressiona as pessoas. Então, você começa a aumentar o peso desse fardo, a encher sua "bolsa" de méritos para mostrar aos outros. Isso se torna um jogo, uma aparência de piedade, mas por dentro você está vazio, infeliz, e apenas atuando.
    Paulo escreve em Romanos 7.24-25 sobre essa luta interna:
    Romains 7.24–25 BEARC
    24 Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 25 Dou graças a Deuspor Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.
    "Quem me livrará deste corpo de morte?"
    E a resposta é clara: apenas a graça e o amor de Deus podem nos libertar.
    É hora de sair desse caminho de mérito, de aparência, onde você tenta parecer autossuficiente, e passar para o caminho da graça. Como Paulo disse em Gl 6.14 :
    Galates 6.14 BEARC
    14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo.
    se há algo em que devemos nos gloriar, que seja em Jesus Cristo, pois Ele fez tudo. Nós somos apenas beneficiários dessa graça.
    Galates 6.15 BEARC
    15 Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
    Que todos que concordam com isso digam "amém"!
    Vemos que Paulo desenvolveu ao extremo a teologia da Igreja de Antioquia, a qual fez da morte do Cristo, e somente dela, o lugar do perdão dos pecados.
    É importante sublinhar que Paulo não considera o crente como já estando ressuscitado com o Cristo, e assim definitivamente subtraído desde o batismo das garras do pecado;
    enquanto ele viver “na carne”, o fiel pode soltar-se da comunhão com a vida do Cristo
    e, mesmo si ele conserva a liberdade que lhe foi conferida pelo “espírito do Cristo” que habita nele, ele deve observar um comportamento que não o separa do espírito do Cristo (maneira de viver dEle).
    Mais tarde, nas cartas aos Colossenses e aos Efésios, será afirmado que o crente, no batismo, já é ressuscitado com o Cristo. (Ver Cl 2.12; Ef 2.5-6)
    Para Paulo, a lei nunca teve nada a ver com a justificação e assim não deve ser imposta aos que creem em Jesus; porém esse não será o mesmo tipo de pensamento dezenas de anos mais tarde nas comunidades onde o Ev. de Mateus será lido (ver Mt 5.17-19) ou a carta de Tiago será autoridade, pois para ele a fé justifica somente se for acompanhada de obras. . A tensão só é vista quando esses textos são colocados no cânon bíblico.
    Assim para Paulo, os que não são judeus não são obrigados a pertencer à um Israel que é definido pelos reconhecido por suas próprias marcas de identidades reconhecidas pelos outros.
      • Romanos 7.24–25NVLMDTLZDN

      • Gálatas 6.14NVLMDTLZDN

      • Gálatas 6.15NVLMDTLZDN

      • Bible Trivia
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      • 1Coríntios 11.23–33NVLMDTLZDN